Diante de fatos recentes que chocaram o país, referentes ao estupro coletivo de uma menina de 17 anos por cerca de 33 homens, é importante aproveitar o momento para aprofundar nossa reflexão sobre o tema.
O estupro não é uma invenção brasileira, existe no mundo todo desde sempre, mas onde a ignorância é maior, os casos se tornam mais graves. De forma simplificada, podemos definir essa conduta como total desrespeito pelos direitos da mulher, algo que deveria ser óbvio, mas não existe civilidade na vida real. As sociedades patriarcais, como a nossa no Brasil, simplesmente não admitem que a mulher seja dona de seu corpo e possa decidir o que fazer consigo mesma. Criou-se a noção de que a parcela feminina da população precisa estar dividida em duas partes: a das mulheres de família, criadas para casar e ter filhos, e a das decaídas, que precisam ser sacrificadas em prostíbulos ou nas ruas para satisfazer os desejos masculinos quando quer que eles acometam seu portador. Se houver abuso de drogas, o que é muito comum, então a tragédia é completa.
Desta forma, a escravidão feminina foi camuflada mas, para quem tem olhos, está tudo muito claro. Em nosso país, a mulher não têm o direito de dizer “não”. Se não quer o ato sexual ou está impossibilitada de externar sua votade ela é estuprada. Se diz sim, pois as mulheres também possuem desejos, deve ser achincalhada por agir como “prostituta”. Esse viés não admite nenhuma solução digna.
Nosso país é campeão mundial de violência contra a mulher. O estupro é corriqueiro, o assassinato também. Somos um agrupamento de infratores ou, ao menos, de desregrados. Se não fazemos guerra contra os países vizinhos, armamos uma guerra interna sem precedentes. Somos todos contra todos e é terrível viver assim. As boas iniciativas não conseguem prosperar, pois são sabotadas, solapadas, destruídas.
Propor aumento de pena para estupro coletivo é medida sem efeito prático, pois se o aparato policial não consegue desvendar as autorias e a Justiça não consegue condenar, tanto faz o montante de uma pena que não será aplicada.
Gostaríamos de supor que todos queremos que o Brasil funcione, mas não é bem assim. Alguns poucos querem, de verdade, melhorar nosso país, mas será preciso descobrir, com urgência, onde estão os mais capacitados para governar o caos.